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Quem junta cupons fiscais para ir ao Baptistão escuta mais sobre a crise do futebol sergipano do que gritos de gol. Fala-se mais em modernização do que em esquema tático. O que poucos sabem é que a crise não é de Sergipe, nem do Nordeste. O futebol brasileiro possui uma organização e um planejamento essencialmente amador, com uma estrutura viciada na burocratização do esporte. A falta de organização afasta os investidores e aumenta cada vez mais a precariedade dos clubes. Sem investimento, não há formação de atletas preparados. Sem atletas preparados, não existem gols. E sem gols não há retorno financeiro. Um eterno 0 a 0 que possui explicações bem mais complexas que as filosofias de arquibancada.
A administração do futebol no Brasil ainda é a mesma de quando o profissionalismo foi introduzido no país, durante a Era Vargas. Na época, o Estado dispunha de um modelo de gestão regulador e promotor das atividades esportivas. Até hoje, essa cultura de que o governo deve ser o grande mantenedor do esporte persiste. “É um reflexo da própria sociedade brasileira”, analisa o professor de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Hamilcar Dantas Silveira Jr., para quem os órgãos públicos e as federações privadas, responsáveis pela organização dos campeonatos, são comandados por indivíduos que se perpetuam nos cargos durante anos.
Para se ter uma idéia, em países como Inglaterra e Alemanha, as confederações nacionais de futebol são responsáveis exclusivamente pelas seleções. Os jogos da Premier League inglesa e da Bundesliga alemã são organizados pelos próprios clubes, um modelo que não onera a arrecadação das confederações. No Brasil, por exemplo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) arrecadou US$ 5 milhões em apenas um jogo amistoso da Seleção Brasileira, contra o Zimbábue na pré-Copa de 2010. No Brasil a criação do Clube dos 13, em 1987, apontava para este caminho, porém este “hoje é uma instituição que basicamente ajuda a CBF”, considera o professor Hamilcar Silveira Jr.
Realidade mais próxima
O que acontece no nosso Estado não é nada muito diferente do resto do país. Segundo o professor Hamilcar Silveira Jr., o torcedor sergipano sente mais porque está próximo da sua realidade. O esporte é dependente das ações do Estado, que de forma paternalista sustenta o futebol profissional com ações pontuais, como a troca de ingressos por nota fiscal. Essa dependência dos órgãos públicos acaba com a autonomia dos clubes, que ficam esperando as migalhas do governo por não reconhecerem as forças que têm. Ainda por cima, os dirigentes dos clubes estão todos vinculados à estrutura burocrática de poder, o que explica a contradição de o presidente da Federação Sergipana de Futebol, José Carivaldo de Souza, estar em seu cargo desde 1990. Vinte longos anos de gestão sem resultados satisfatórios.
Sem investimento, os clubes tentam formar atletas em suas divisões de base. Porém, o talento não pode ser o único aspecto trabalhado. A formação de atletas com um potencial físico capaz de competir nacionalmente envolve a contratação de fisiologistas, preparadores físicos e médicos especializados. Como os clubes não dispõem de recursos, os atletas formados no estado não conseguem se desenvolver e trazer bons resultados para o time profissional. “O melhor exemplo é o jogador Sandoval, da década de 1990”, cita o professor. Ainda segundo ele, sua técnica era superior a de atletas como Cafu, porém não possuía a mesma compleição física que o ex-lateral da Seleção Brasileira. O ciclo se configura da seguinte maneira: os clubes precisam de dinheiro para investir nas divisões de base e obter bons resultados no elenco profissional para conseguir mais dinheiro. Sem o investimento inicial, o sistema fica completamente estagnado.
Porém é fácil entender porque o futebol sergipano encontra tantas dificuldades com patrocínio. A falta de organização nos campeonatos e de perspectiva de desenvolvimento dos clubes faz com que os potenciais investidores percam o interesse em investir em algo sem retorno financeiro garantido. Mesmo que o investimento seja alto ao ponto de montar um elenco imbatível, esse time continuará jogando um campeonato desorganizado com os mesmos problemas estruturais. Se tudo der certo, o retorno financeiro em um campeonato de primeira divisão só acontecerá em quatro anos. É um prazo longo e de alto risco a ser enfrentado pelos financiadores.
A visão empreendedora restrita dos dirigentes também contribui para a falta de expressão dos clubes na Copa do Brasil, por exemplo, o que acaba minando o interesse dos empresários. Existe uma corrida para conseguir enfrentar os grandes clubes do Sul e Sudeste do país para lotar o Baptistão e conseguir uma única renda ao longo do ano. Aparentemente, os clubes deixaram de perceber que se em vez disso existisse um planejamento almejando a evolução dos times ao longo do campeonato, os investidores talvez sentissem um estímulo, motivado pela presença da torcida, que certamente compareceria ao Estádio.
O melhor exemplo foi a temporada de 2008 da Série C, quando o Confiança conseguiu encher o Baptistão durante a campanha “Vamos subir Dragão”. Isso refuta a tese de que os torcedores não trocam os jogos dos times paulistas e cariocas e o conforto de casa pelo estádio. Segundo o professor, “os torcedores não vão aos estádios por que não veem resultado”. É como se ninguém mais se desse conta de que a torcida é o fator primordial de todo o sistema. É ela que movimenta os recursos financeiros e cabe a ela também colaborar e cobrar melhores resultados. O torcedor está incomodado e mostra sinais de reação. Em outubro de 2009, torcedores do Club Sportivo Sergipe criaram o movimento “Quero meu Sergipe de volta”, que através da indignação, conseguiu ajudar o clube a se reestruturar, ainda que de forma lenta, após o afastamento do ex-presidente Antônio Soares da Mota, o Motinha, por improbidade administrativa.
Se em vez de uma estrutura burocrática houvesse no Estado um modelo de administração que desse voz ao torcedor, certamente haveria uma mudança na elaboração do planejamento estratégico dos times para as temporadas seguintes. O projeto embrionário dos sócio-torcedores é apenas um pequeno exemplo de uma gestão democrática que pode mudar a cara do futebol sergipano. “O único motivo do Sergipe existir é a torcida. Ela é tudo de bom que o Sergipe tem”, considera Marcos Virgílio Santos Silva, supervisor de Futebol do Club Sportivo Sergipe. Atualmente as diretorias dos dois maiores clubes da Capital estão passando por mudanças. A diretoria interina do Sergipe aguarda a efetivação para começar a trabalhar de fato e a Associação Desportiva Confiança elegeu novos dirigentes no mês de setembro. Resta acompanhar, fiscalizar e cobrar deles novas alternativas.
Da redação do Conect Esporte SE
A administração do futebol no Brasil ainda é a mesma de quando o profissionalismo foi introduzido no país, durante a Era Vargas. Na época, o Estado dispunha de um modelo de gestão regulador e promotor das atividades esportivas. Até hoje, essa cultura de que o governo deve ser o grande mantenedor do esporte persiste. “É um reflexo da própria sociedade brasileira”, analisa o professor de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Hamilcar Dantas Silveira Jr., para quem os órgãos públicos e as federações privadas, responsáveis pela organização dos campeonatos, são comandados por indivíduos que se perpetuam nos cargos durante anos.
Para se ter uma idéia, em países como Inglaterra e Alemanha, as confederações nacionais de futebol são responsáveis exclusivamente pelas seleções. Os jogos da Premier League inglesa e da Bundesliga alemã são organizados pelos próprios clubes, um modelo que não onera a arrecadação das confederações. No Brasil, por exemplo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) arrecadou US$ 5 milhões em apenas um jogo amistoso da Seleção Brasileira, contra o Zimbábue na pré-Copa de 2010. No Brasil a criação do Clube dos 13, em 1987, apontava para este caminho, porém este “hoje é uma instituição que basicamente ajuda a CBF”, considera o professor Hamilcar Silveira Jr.
Realidade mais próxima
O que acontece no nosso Estado não é nada muito diferente do resto do país. Segundo o professor Hamilcar Silveira Jr., o torcedor sergipano sente mais porque está próximo da sua realidade. O esporte é dependente das ações do Estado, que de forma paternalista sustenta o futebol profissional com ações pontuais, como a troca de ingressos por nota fiscal. Essa dependência dos órgãos públicos acaba com a autonomia dos clubes, que ficam esperando as migalhas do governo por não reconhecerem as forças que têm. Ainda por cima, os dirigentes dos clubes estão todos vinculados à estrutura burocrática de poder, o que explica a contradição de o presidente da Federação Sergipana de Futebol, José Carivaldo de Souza, estar em seu cargo desde 1990. Vinte longos anos de gestão sem resultados satisfatórios.
Sem investimento, os clubes tentam formar atletas em suas divisões de base. Porém, o talento não pode ser o único aspecto trabalhado. A formação de atletas com um potencial físico capaz de competir nacionalmente envolve a contratação de fisiologistas, preparadores físicos e médicos especializados. Como os clubes não dispõem de recursos, os atletas formados no estado não conseguem se desenvolver e trazer bons resultados para o time profissional. “O melhor exemplo é o jogador Sandoval, da década de 1990”, cita o professor. Ainda segundo ele, sua técnica era superior a de atletas como Cafu, porém não possuía a mesma compleição física que o ex-lateral da Seleção Brasileira. O ciclo se configura da seguinte maneira: os clubes precisam de dinheiro para investir nas divisões de base e obter bons resultados no elenco profissional para conseguir mais dinheiro. Sem o investimento inicial, o sistema fica completamente estagnado.
Porém é fácil entender porque o futebol sergipano encontra tantas dificuldades com patrocínio. A falta de organização nos campeonatos e de perspectiva de desenvolvimento dos clubes faz com que os potenciais investidores percam o interesse em investir em algo sem retorno financeiro garantido. Mesmo que o investimento seja alto ao ponto de montar um elenco imbatível, esse time continuará jogando um campeonato desorganizado com os mesmos problemas estruturais. Se tudo der certo, o retorno financeiro em um campeonato de primeira divisão só acontecerá em quatro anos. É um prazo longo e de alto risco a ser enfrentado pelos financiadores.
A visão empreendedora restrita dos dirigentes também contribui para a falta de expressão dos clubes na Copa do Brasil, por exemplo, o que acaba minando o interesse dos empresários. Existe uma corrida para conseguir enfrentar os grandes clubes do Sul e Sudeste do país para lotar o Baptistão e conseguir uma única renda ao longo do ano. Aparentemente, os clubes deixaram de perceber que se em vez disso existisse um planejamento almejando a evolução dos times ao longo do campeonato, os investidores talvez sentissem um estímulo, motivado pela presença da torcida, que certamente compareceria ao Estádio.
O melhor exemplo foi a temporada de 2008 da Série C, quando o Confiança conseguiu encher o Baptistão durante a campanha “Vamos subir Dragão”. Isso refuta a tese de que os torcedores não trocam os jogos dos times paulistas e cariocas e o conforto de casa pelo estádio. Segundo o professor, “os torcedores não vão aos estádios por que não veem resultado”. É como se ninguém mais se desse conta de que a torcida é o fator primordial de todo o sistema. É ela que movimenta os recursos financeiros e cabe a ela também colaborar e cobrar melhores resultados. O torcedor está incomodado e mostra sinais de reação. Em outubro de 2009, torcedores do Club Sportivo Sergipe criaram o movimento “Quero meu Sergipe de volta”, que através da indignação, conseguiu ajudar o clube a se reestruturar, ainda que de forma lenta, após o afastamento do ex-presidente Antônio Soares da Mota, o Motinha, por improbidade administrativa.
Se em vez de uma estrutura burocrática houvesse no Estado um modelo de administração que desse voz ao torcedor, certamente haveria uma mudança na elaboração do planejamento estratégico dos times para as temporadas seguintes. O projeto embrionário dos sócio-torcedores é apenas um pequeno exemplo de uma gestão democrática que pode mudar a cara do futebol sergipano. “O único motivo do Sergipe existir é a torcida. Ela é tudo de bom que o Sergipe tem”, considera Marcos Virgílio Santos Silva, supervisor de Futebol do Club Sportivo Sergipe. Atualmente as diretorias dos dois maiores clubes da Capital estão passando por mudanças. A diretoria interina do Sergipe aguarda a efetivação para começar a trabalhar de fato e a Associação Desportiva Confiança elegeu novos dirigentes no mês de setembro. Resta acompanhar, fiscalizar e cobrar deles novas alternativas.
Da redação do Conect Esporte SE
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