Como o ensino e a prática do ballet clássico promovem a progressão dos movimentos e socialização de crianças portadoras de necessidades especiais
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Quem observa inadvertidamente os passos oscilantes - mas decididos – de Raíssa Araújo não
conseguiria acreditar que estavam destinados à inércia. Vítima de paralisia cerebral ao nascer, a
jovem de 17 anos que não conseguia se sustentar sentada hoje se mantém em pé e caminha curtas distâncias sem ajuda. O ballet terapia, unido à fisioterapia, foi essencial para essa evolução ao longo dos sete anos em que a dança passou a integrar sua rotina.
Semelhante à “Dançaterapia”, essa prática é direcionada à crianças, adolescentes, adultos, idosos,
e se aplica no campo da educação e da reabilitação com pessoas que têm dificuldades relacionais ou psíquicas, deficiências físicas ou sensoriais. Em Sergipe, a abordagem é utilizada pela Academia Sergipana de Ballet (ASB) desde 1996 como fator de inclusão social. A partir de 2002 a instituição passou a agregar fisioterapeutas especializados para lidar com crianças portadoras de diversas deficiências: paralisia infantil, hidrocefalia, surdez, cegueira, entre outras.
A ideia surgiu como inspiração do trabalho realizado pela bailarina e coreógrafa cubana Alicia Alonso, uma profissional que busca fundir mente, corpo e emoções em busca do equilíbrio. “Muitas pessoas acreditam que quando o corpo é deficiente a cabeça também é. Por isso, acima de tudo, o incentivo da família e o respeito dos limites da criança são fundamentais para mudanças progressivas, tanto no comportamento e auto-estima quanto na evolução da coordenação motora”, afirma a diretora da ASB, Dorinha Teixeira.
De acordo com o Centro Internacional de Dançaterapia, a modalidade oferece a oportunidade de expressar emoções através do movimento e favorece uma boa integração entre o corpo e a mente, porque aumenta a consciência e as potencialidades expressivas da linguagem corporal, provocando uma relação que liberta o indivíduo das barreiras subjetivas, culturais e socias típicas da comunicação verbal.
Janaína de Araújo, mãe de Raíssa, escolheu o ballet como uma alternativa à ausência de instituições capacitadas para educar e socializar crianças com deficiência. “Percorri diversas escolas, mas em Aracaju nenhuma mostrou potencial para lidar com esse tipo de situação. Através do ballet terapia Raíssa melhorou a auto-estima e postura, não está com os membros atrofiados como geralmente acontece em portadores de paralisia cerebral”, diz. Raíssa e outros colegas especiais se apresentam anualmente em espetáculos de dança.
O ballet terapia na prática
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Entre o ballet clássico e o ballet terapia não existem diferenças acentuadas. Ambos trabalham a coordenação, equilíbrio, postura e socialização com crianças, mas a terapia, além de exigir um ritmo lento, é uma adaptação da técnica clássica acadêmica para reabilitar disfunções neuro-psico-corporais mediante o ballet clássico, por intermédio de uma dinâmica psico-corporal.
A dificuldade maior ao lidar com os especiais, segundo a fisioterapeuta e bailarina Juliana de Góes Jorge, reside na necessidade de conquistar a criança antes de se consolidar um processo de aprendizado satisfatório. “Algumas crianças não nos permitem tocá-las e mantém um canal de comunicação mínimo. É necessário tempo para conquistá-las e ganhar sua confiança e também respeitar os limites de cada uma, para não haver conflitos”.
Dorinha Teixeira finaliza: “Esse é um tipo de trabalho que precisa ser permanente para haver evolução contínua das funções motoras das crianças. Sua evolução também é um reflexo do tratamento que recebem em casa: se os pais a tratarem como seres humanos normais, e não como pobres coitados, há uma boa reação e elas se sentirão cada vez mais à vontade e confiantes, se integrando com mais facilidade ao meio social”.
Por Marianne Heinisch
Fotos: Arquivo pessoal
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